quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O mercado do plágio

"Nada se cria, tudo se copia". É com essa frase do saudoso Chacrinha (que nem é do meu tempo) que eu inicio este post. Bem, pelo menos eu tive um senso de ética para escrevê-la entre aspas, pra destacar que a frase não é minha, mas o que vemos como uma regra hoje em todos os segmentos da sociedade é que a cópia e cola virou um negócio rentável e satisfatório. Quem foi o aluno que nunca colou numa prova individual? Eu mesmo já colei, embora poucas vezes, principalmente em história que é minha matéria mais odiada (falarei sobre isso em outro post), mas minha função no mercado da cola escolar era passar cola, principalmente em matemática e física.
Numa sala de aula comum, por exemplo, existem os "colões", os passa-colas, os honestos (que não entram no mercado da cola) e os que não querem nada com nada. Os colões são quase sempre a maioria da sala, e se aproveitam do interesse e intelecto de alguns alunos em determinadas disciplinas pra fazer suas cópias e colas e tirar notas semelhantes às dos passa-colas, já que por ser uma cola, é sempre possível que um colão erre (já que por ser colão ele não sabe distinguir entre o que está certo e errado), e assim sua nota nunca é superior à do passa-cola, mas é graças a este que o colão passa de ano.
O passa-cola por sua vez é um aluno inteligente e esperto, e por ser inteligente ele quase sempre domina uma ou mais matérias e é o "agente" da cola, aquele que vende respostas aos colegas, seja em troca de não sofrer bullying ou por uma regalia qualquer. Este é o que sempre faz a parte mais difícil dos trabalhos em grupo, já que os colões e os "nada com nada" não têm capacidade para tal, ficando estes com a função de fornecer o material ou copiar da lousa o questionário, dependendo do tipo de trabalho, de modo que o passa-cola irá respondê-lo ou confeccioná-lo.
Os honestos são geralmente os "nerds" que sofrem bullying (por não se enturmarem com os colões), ou então alunos que não se enturmam com os colegas. Suas notas tende a ser dispares por causa disso, sendo que em uma matéria ele pode tirar 10 e em outra 0, já que não entra no mercado da cola. Por fim, os que não querem nada com nada são pessoas de temperamento "sanguíneo", que não seguem as normas da escola ou não está preocupada com nada. Estes são os maiores repetentes por suas notas serem quase sempre baixíssimas, exceto as de disciplinas como artes ou religião que quase todo aluno tira 10.
Bem, eu pude descrever como é o negócio da cola na sala de aula pois além de lecionar, eu já fui aluno, logicamente, e sei como poucos como funciona a dinâmica da sala de aula. Mas mudando de pau pra cacete, uma coisa que, de fato me decepciona no mercado do plágio é o fato de que os mesmos professores que cobram honestidade de alunos de 12, 13 anos; quando estão em seus cursos de faculdade, são tão colões quanto eles. Aí eu pergunto: qual é a autoridade que um professor tem nesses casos? Por que um aluno de 13 anos deve ser honesto enquanto seu professor que lhe cobra honestidade faz a mesma coisa na faculdade? Isso me intriga, não e só a cola escolar que virou moda, a compra de TCC's também é um negócio lucrativo e satisfatório para ambos os lados, corruptor e corrupto.
A originalidade é hoje um artigo de raridade, hoje em dia a pessoa baseia seus próprios pensamentos em ideias alheias, estudantes de filosofia dão uma suposta autoridade para seus "gurus" como Nietzsche ou Jung, crentes entoam passagens bíblicas, pessoas comuns se valem de jargões e ditados populares, e todas essas pessoas aceitam isso como suas verdades absolutas, e criam pensamentos do tipo "segundo Nietzsche...", "segundo Popper...", "segundo Jesus...", "não questione a bíblia".
É pessoal, hoje em dia nem pensamentos escapam de serem plagiados, e enquanto pessoas adultas copiam e colam desde modelos de produtos tecnológicos a pensamentos, crianças e adolescentes colam na escola e são execradas por isso, sendo que no fim, "quem não cola não sai da escola".

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